Hanami
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A época das cerejeiras em flor está finalmente a chegar. Este costume japonês, “Hanami” ou “observar flores”, tem origem no período Nara, no século VIII. Surpreendentemente, há dados recolhidos desde o ano de 812 que permitem identificar o dia do ano em que a floração das cerejeiras atinge o seu ponto mais alto. Historicamente em abril, este ponto alto chega cada vez mais cedo, e situase agora mais perto de março, um dos muitos efeitos das mudanças climáticas.
Tal como acontece com o pico da época das cerejeiras em flor, a principal dúvida dos clientes e investidores nos mercados de acções é saber se esse ponto alto já está a bater à porta. Este tem sido um ano de notável desempenho para os mercados e, assim como o Hanami —é altura para nos sentarmos e contemplarmos a natureza —, também este pode ser o momento para nos perguntarmos se está na hora de fazermos uma pausa.
PONTO ALTO TAMBÉM PARA AS ACÇÕES?
Há um ano, num inquérito realizado pelo Financial Times, 85% dos economistas previam uma recessão nos Estados Unidos o mais tardar até finais de 2023. Felizmente, estavam enganados. No ano passado, actualizámos várias vezes as nossas previsões para o PIB, abandonando em junho uma previsão de recessão. Recentemente, adicionámos quase um ponto percentual às nossas previsões de crescimento para 2024, passando para 2,3%. Temos permanecido positivos quanto aos activos de risco e cautelosos no que diz respeito às taxas de juro de longo prazo nestes últimos nove meses. Mas temos que reconhecer que o mercado reajustou quase todo o seu ambiente macroeconómico, e está agora mais equilibrado. Naturalmente, levantase a questão de saber se está tudo implícito nos preços. Por enquanto, “Boas notícias são boas notícias” nos mercados financeiros... mas até quando?
Que seja bem claro, não estamos a ficar pessimistas. Continuamos positivos e o nosso cenário macroeco-nómico mantémse inalterado. A economia norteamericana continua a estar resiliente. E também já se vêem os primeiros sinais de melhoria na zona euro, com o índice de gestores de compras (PMI) a indicar um novo impulso do ciclo de produção industrial. O processo de ajustamento da inflação continua, mas de forma menos célere do que o antecipado: os dados relativos ao mês de março foram difíceis de digerir pelos mercados. Consequentemente, nos Estados Unidos e na Europa, as previsões dos investidores para este ano, em termos do número de cortes nas taxas de juro, passaram de sete para, respectivamente, três e quatro, e isto no momento em que escrevemos este artigo. Não obstante, as acções têm merecido pouca atenção por parte dos investidores, e continuam bem posicionadas para ter um bom desempenho, alimentadas por resultados positivos, especialmente os publicados pelas empresas do sector tecnológico, e por um apetite voraz dos investidores individuais, que contam ainda com uma liquidez abundante.
Uma série de indicadores merecem a nossa atenção. O sentimento é claramente mais optimista, mas sem euforia. Uma tendência de alta do posicionamento em vários sectores, fortemente comprador para operadores sistemáticos. Os fluxos nas acções têm sido sólidos desde o início do ano, mas os fluxos nos fundos do mercado monetário são ainda mais consistentes. Poderemos debater durante horas sobre a fronteira que separa o optimismo da euforia. Seja como for, muito já está incorporado nos mercados de acções, especialmente nos Estados Unidos.
NÍVEIS DE VOLATILIDADE ATRACTIVOS NAS ACÇÕES
Os pessimistas teriam salientado o recorde de baixa volatilidade das acções como um sinal importante de complacência e de alerta. Os activos de fundos que vendem opções para aumentar as suas receitas de distribuição explodiram, e totalizam agora mais de 60 mil milhões de dólares de activos sob gestão. No entanto, os fundos que estão curtos de volatilidade, que implodiram durante o pico de volatilidade no final de 2017, continuam a ter activos baixos e, por conseguinte, encontramse numa situação muito diferente hoje.
Os picos de acções e níveis de volatilidade extremamente baixos podem ser utilizados em benefício dos investidores. Tanto para quem pretende diminuir a sua exposição às acções mas mantendose investido , como para quem quer acrescentar acções sem surpresas com potenciais máximos atingidos, nunca houve um período tão favorável para implementar os chamados "substitutos de acções".
Com taxas de juro elevadas, é possível manter um maior grau de exposição aos mercados de acções, procedendo à aquisição de opções de compra em alta, valorizadas a níveis de custo muito baixos devido à baixa volatilidade implícita. É o que nos permite adoptar uma abordagem mais diferenciada na gestão da exposição às acções, com maior flexibilidade face à eventualidade de uma recessão no mercado. Como já escrevíamos no nosso editorial de fevereiro, considerando a quantidade de liquidez ainda à margem, haverá concorrência para comprar numa queda de mercado.
Nesta edição, Nicolas Mougeot analisa a queda substancial dos preços do gás na Europa, que caíram para um décimo em relação ao seu pico de 2022. Um aumento significativo da oferta deverá garantir que os preços se mantenham baixos, o que constituirá um factor de suporte, tanto para os consumidores europeus como para as empresas industriais.
Monthly House View, 22/03/2024 – Excerpt of the Editorial
03 abril 2024